Determinantes Sociais da Saúde: Um olhar que vai além do EPI
- Juliana Dias

- 23 de out.
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Na área de Segurança do Trabalho, é comum que as análises de riscos se concentrem nos agentes físicos, químicos, biológicos, mecânicos e ergonômicos. No entanto, a saúde do trabalhador é moldada também por um conjunto mais amplo de fatores sociais, econômicos e culturais, os chamados Determinantes Sociais da Saúde.
Diversas pesquisas comprovam que as condições sociais influenciam diretamente a saúde, os afastamentos e a expectativa de vida dos trabalhadores. O Mapa das Desigualdades de São Paulo, desenvolvido pela Rede Nossa São Paulo, em 2023, mostra que a expectativa pode variar mais de 15 anos entre bairros, em função de fatores como moradia precária, falta de saneamento, transporte deficiente e insegurança. Essas mesmas condições impactam a frequência e a duração dos afastamentos por adoecimento, pois trabalhadores expostos a contextos sociais mais vulneráveis chegam ao emprego com maior desgaste físico e emocional, menor acesso à saúde e menor capacidade de recuperação.
Um exemplo ocorre na ergonomia: trabalhadores que vivem em moradias inadequadas, dormem mal e enfrentam longos deslocamentos diários apresentam maior fadiga muscular e menor tolerância postural, o que aumenta o risco de distúrbios osteomusculares e afastamentos.
No caso da exposição a agentes químicos, o impacto dos determinantes sociais também é evidente. Um trabalhador que vive em uma área sem saneamento básico ou próxima a fontes de poluição ambiental pode ter o organismo já sobrecarregado por exposições prévias. Nessas condições, até pequenas doses de produtos químicos no ambiente laboral podem gerar efeitos mais severos, ampliando o risco de intoxicações e doenças ocupacionais.
Ignorar essas condições é tratar apenas os sintomas e não todas as causas reais. Diante disso, é preciso que o setor de Segurança do Trabalho atue em conjunto com o Recursos Humanos. Juntos, esses setores podem mapear vulnerabilidades sociais que impactam a saúde dos trabalhadores, como endividamento, moradia precária, jornadas excessivas, transporte ineficiente, alimentação inadequada, dentre outros. Com base nesse levantamento, é possível planejar ações, como programas de bem-estar e educação financeira, flexibilização de horários para quem enfrenta longos deslocamentos, apoio psicossocial e políticas internas de incentivo à escolarização etc.
A Segurança do Trabalho precisa enxergar além dos muros da fábrica ou do escritório. Incorporar os determinantes sociais da saúde às análises e relatórios é um passo necessário para compreender por que alguns grupos adoecem mais e se recuperam menos, mesmo sob as mesmas condições físicas.
Fonte: Revista Proteção



