Escala 6x1: afinal, jornada reduzida funciona no Brasil?
- Juliana Dias

- 18 de nov. de 2024
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Muitos trabalhadores brasileiros vêm se manifestando em todo o país sobre a escala de trabalho reduzida. Isso porque o tema tem ganhado atenção após a apresentação de uma proposta de emenda à Constituição que reduz a jornada máxima de 44 para 36 horas semanais. A ideia surgiu do vereador eleito do Rio de Janeiro, Rick Azevedo, que criou o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), defendendo o fim da escala 6x1. A proposta foi protocolada pela deputada federal Erika Hilton, líder do Psol na Câmara dos Deputados, em 1º de maio deste ano, marcando o Dia do Trabalhador.
Apesar de representar uma iniciativa inovadora e que tenta avançar em prol da qualidade de vida do trabalhador, há complexidades envolvidas. Para alguns especialistas, o principal desafio reside na adaptação de setores cuja operação depende de continuidade, como saúde, segurança e transporte. O modelo 6x1 é amplamente utilizado para garantir que tais atividades não sejam interrompidas, e migrar para uma estrutura diferente, o 4x3 por exemplo, pode exigir uma readequação na quantidade de profissionais, aumento de custos e, consequentemente, na estrutura das escalas e contratações. Além disso, as mudanças feitas na jornada de trabalho impactam diretamente a folha de pagamento, as contribuições trabalhistas e o planejamento de turnos, o que exige um estudo cauteloso sobre o impacto econômico e de produtividade.
Por outro lado, cresce o grupo que acha que é necessário, sim, um processo de adaptação, mas que, no fim, o saldo é positivo para todos. Algumas experiências fora do Brasil mostram que, numa semana de 4 dias, observa-se a redução do turnover (rotatividade), das licenças médicas e do absenteísmo. Então, no final, esses custos que são invisíveis, muitas vezes, acabam compensando o investimento de ter um time adicional. Para ter a escala de quatro dias por semana, a empresa, de fato, tem de contratar mais pessoas, mas mesmo assim isso pode ser compensado financeiramente, principalmente porque as pessoas se tornam mais engajadas, mais motivadas no trabalho, têm mais saúde mental e bem-estar.
A transição para um modelo diferente do 6x1 é, em teoria, viável, mas exige uma adaptação robusta, incluindo negociações setoriais para que a mudança ocorra de forma prática e sustentável. A migração implicaria numa restrição das escalas, possivelmente exigindo aumento na força de trabalho e redistribuição de jornadas, o que poderia onerar as empresas a curto prazo, impactando em toda a cadeia produtiva. A alteração do sistema atual também impactaria diretamente o cálculo de horas extras, folgas e adicionais noturnos, alterando as rotinas de departamentos de recursos humanos e as relações contratuais entre empregador e empregado.
Em última instância, uma mudança gradual, com suporte de regulamentações específicas para setores essenciais, pode tornar o processo mais seguro e minimamente disruptivo ao mercado de trabalho brasileiro. Finalmente, é preciso desmistificar que horas trabalhadas têm a ver com produtividade. A mudança melhora na percepção de equilíbrio entre vida pessoal e profissional e, com isso, maior dedicação ao trabalho, com mais foco e engajamento.
Fonte: Correio Braziliense



