O Brasil enfrenta uma epidemia de burnout?
- Juliana Dias

- 16 de ago. de 2024
- 2 min de leitura

Em 2023, o Brasil registrou 421 afastamentos de trabalho devido ao burnout, o maior número em dez anos, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Esse aumento foi particularmente notável durante a pandemia de coronavírus. De 178 afastamentos por burnout em 2019, o número saltou para 421 em 2023, um aumento de 136%. Nos últimos dez anos, os afastamentos por essa razão cresceram quase 1.000%.
Especialistas apontam três fatores para esse aumento nos diagnósticos de burnout no Brasil: maior conhecimento da população sobre transtornos relacionados ao trabalho, especialmente após o reconhecimento do burnout como síndrome ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS); maior pressão sobre os trabalhadores nos ambientes corporativos, levando ao estresse e desencadeando transtornos mentais; e dificuldades na diferenciação entre burnout e outros transtornos mentais relacionados ao trabalho.
Hoje, estima-se que cerca de 40% da população economicamente ativa sofra de burnout, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT). No entanto, nem todos os casos são identificados, e os dados oficiais disponíveis no Brasil são limitados, contabilizando apenas os afastamentos por mais de 15 dias.
Atualmente, uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) exige que o médico prove a relação entre o trabalho e o esgotamento profissional. O médico psiquiatra só pode diagnosticar burnout se visitar o local de trabalho e estabelecer o nexo causal. Consultas apenas em consultórios não são suficientes para tal diagnóstico.
Se comprovado que o ambiente de trabalho contribuiu para o desenvolvimento do burnout, a empresa pode ser judicialmente responsabilizada. As empresas brasileiras precisam se engajar mais na prevenção do burnout, promovendo mudanças na cultura organizacional para reduzir a pressão e a competitividade, focando no bem-estar dos trabalhadores.
O aumento de diagnósticos de burnout e de transtornos mentais relacionados ao trabalho pode também explicar o crescimento dos pedidos de demissão no Brasil. A insatisfação com as condições de trabalho tem levado muitos jovens a questionar as formas tradicionais de organização do trabalho. Estamos vendo fenômenos como o ‘quiet quitting’ e a ‘great resignation’, em que jovens altamente escolarizados pedem demissão porque não veem mais sentido em seu trabalho e estão à beira de um colapso por exaustão.
Sobre a doença
O termo “burnout” foi descrito pela primeira vez em 1974, pelo médico psicanalista alemão-americano Herbert Freudenberger, e se popularizou entre os trabalhadores após a síndrome ser incluída na lista de classificação internacional de doenças da OMS em 2022. O reconhecimento oficial do burnout como uma condição relacionada ao trabalho garantiu aos diagnosticados os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários previstos para outras doenças ocupacionais.
Para diagnosticar o burnout, os sintomas precisam estar diretamente relacionados ao trabalho. A síndrome se caracteriza por três dimensões principais: exaustão emocional, despersonalização (perda de sentimentos em relação a outras pessoas no trabalho), e sensação de reduzida realização profissional. Esses sintomas podem ser identificados pelo paciente através de manifestações físicas, cognitivas e emocionais.
O tratamento da síndrome de burnout envolve psicoterapia e, em alguns casos, o uso de medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos. Mas especialistas alertam para o impacto negativo do diagnóstico de burnout nas empresas, o que pode levar trabalhadores a procurar ajuda somente quando os sintomas se agravam.
Fonte: Portal Plural



